De expressão incomparavelmente inferior às festividades do Espírito Santo, de Nossa Senhora do Rosário e do Carnaval, registamos ainda a celebração nas Lajes de outros festejos. Entre eles, avultam diversões em honra de santos populares ou manifestações profanas de solenidades religiosas, designadamente por ocasião da festa do Carmo e do Natal.
A celebração dos santos populares reverte sobretudo no culto a S. João, durante muitos anos comemorado em simultâneo em dois lugares das Lajes: a Serra de Santiago e o Lajedo. Neste caso, relevam os festejos promovidos na Serra de Santiago, onde o apóstolo S. João assume o carácter de padroeiro de uma comunidade muito peculiar de lajenses, porque maioritariamente originária de outras paragens e ainda separada do convívio da paróquia pelas pistas do aeroporto. Aqui, as festividades sucedem durante quase uma semana e também adquirem um pendor sagrado mais nítido, talvez que a denunciar a proveniência micaelense de muitos dos moradores. Com efeito, a coroação, a distribuição de carne e até o fornecimento de refeições a menores pontificam em todos os programas, que possuem sempre por extensões profanas as iluminações e os bazares, normalmente abrilhantados por filarmónicas e cantorias. No Lajedo, as festas conhecem um período de maior fulgor no decénio de sessenta, experimentando depois um declínio e inclusivamente um interregno, até ao ressurgimento de hoje, operado em moldes e datas diferentes. Mesmo na época de maior brilho, as celebrações decorrem apenas por três dias, consistindo nume sucessão de actos eminentemente profanos. A consulta do Semeador comprova inequivocamente esta asserção. Com efeito, a edição de 22 de Junho de 1974 regista a sequência dos principais eventos: concerto pela filarmónica da Sociedade Recreio Lajense, cantoria tradicional e exibição do grupo folclórico da Sociedade Recreio Lajense. No ano seguinte, em 21 de Junho de 1975, o boletim paroquial assenta de novo a ordem dos espectáculos: a actuação de Lolita Silva e do conjunto da Fonte de Bastardo, concerto pela filarmónica da Sociedade Progresso Lajense e cantoria pelos improvisadores Ferreirinha, Caneta, Abel e Barbeiro. Deste conjunto de cantores, sobressai a falta do lajense “Gaitada”, vizinho do palco das festas, interveniente habitual das cantorias do Lajedo, mas à época alquebrado por uma prolongada doença, que poucos meses volvidos ajudará a vitimá-lo, no seguimento de um acidente doméstico.
Nas últimas décadas, até por via do mero progresso material que facilita a circulação das gentes, a conversão das Sanjoaninas celebradas em Angra do Heroísmo numa espécie de festas de toda a ilha Terceira atenta contra as manifestações genuinamente populares em honra de S. João promovidas nos pequenos lugares. Assim, a estratégia de preservação do culto consiste na alteração de datas, que evita a sobreposição com a folia angrense. A comprová-lo, entre 1970 e 1996, atente-se na diversidade dos tempos de realização dos festejos na Serra de Santiago, atestada pela averiguação do boletim paroquial. Na verdade, enquanto em 1970 as celebrações ocorrem de 18 a 24 de Junho, dia da invocação do apóstolo S. João, já em 1996 acontecem mais cedo, de 13 a 17 de Junho, isto é, antes do início das Sanjoaninas.
Nas Lajes, embora de forma menos regular, também relembramos a realização de festividades em honra de Santo António e de Santa Filomena, respectivamente na Presa do Caetano e na Bateria. A consulta do Semeador constitui de um novo melhor forma averiguação de tais festejos. Em referência á evocação de Santo António na Presa do Caetano, o boletim paroquial de 4 de Julho de 1970 transcreve o programa das festas, agendadas para os dias 24 e 26 de Julho. Entre os eventos, sobressaem a iluminação, abrilhantada pela filarmónica e pelo folclore, mas sobretudo a tourada á corda, que encerra as comemorações. Em relação á invocação de Santa Filomena na Bateria, o Semeador de 29 de Julho de 1968 notícia o termo das festividades em ambiente de muita animação. Após um interregno prolongado, em edição de 13 de Junho de 1981, o boletim paroquial alude de novo á promoção de festejos na Bateria, que constam de baile e tourada á corda, previstos para os dia 17 e 18 de Julho. Apesar de menor expressão de todas estas festas, comparativamente á remodelação de S. João, são durante vários anos no impulsionadoras únicas de espectáculos taurinos nas Lajes, fora do ciclo anual evocativo de Nossa Senhora do Rosário.
Com menor tradição, assinalamos ainda as manifestações festivas associadas á celebração de Nossa Senhora do Carmo e ao Natal. Sobretudo nos anos setenta e oitenta, diversas organizações paróquias promovem festejos diversos, que ainda perduram na memória das gentes, apesar da irregularidade e até da extinção de muitas das iniciativas.
Nas décadas de 1970 e 1980, por meados de Julho, isto é, por altura da procissão do Carmo, ressalta a organização de verbenas no recinto da igreja, promovidas por organização da paróquia. Nos anos setenta, avultam as iniciativas dos Escuteiros e mais esporadicamente da Conferencia de S. Vicente de Paulo, que intentam a obtenção de fundos para a concretização de determinados projectos. Os festejos decorrem quase invariavelmente de sexta a domingo, apresentando programas recreativos simples, como se reduz, uma vez mais, da análise do boletim paroquial. Com efeito, o Semeador de 13 de Julho de 1974 regista a sequência das actividades, concretamente as exibições dos bailes folclóricos do Lawn Tenis Club e da Sociedade Recreativa Lajense. No ano seguinte, o programa festivo pouco vária, constando da execução de um concerto pela filarmónica da Sociedade Progresso Lajense, da realização de uma cantoria tradicional e da exibição do baile das Fontinhas. No princípio dos anos oitenta, na sequência do sismo de 1 de Janeiro, o produto dos arraiais dos Carmo reverte naturalmente a favor da reconstrução da paroquial. Porém, em 1980 e 1981, os festejos são mais curtos, de apenas dois dias. De facto, o boletim paroquial assenta, para 1980, a organização de uma cantoria e apresentação do baile folclórico das Doze Ribeiras e, para 1981, a realização de uma matança regional e a exibição do baile de S. Miguel de Arcanjo das Lajes, ensaiado pela comissão da reconstrução para a propiciar a recolha de fundos.
Desde finais dos anos sessenta, a celebração do Natal constitui também motivo para a organização de cerimónias festivas, que adquirem certa tradição, apesar da irregularidade de algumas iniciativas. Em 27 de Dezembro de 1969, o Semeador noticia, porventura, a realização do primeiro cortejo de oferendas, que partem em dois desfiles separados, dos Remédios e da Ribeira dos Pães, rumo á igreja paroquial e cujo produto reverte a favor do passeio da catequese. Todavia, a partir do começo da década de setenta, os escuteiros assumem cada vez maior protagonismo planificação nas festividades natalícias. Com efeito, á continuidade do cortejo de oferendas, seguido das correspondentes arrematação, acresce a preparação de presépios vivos, geralmente armados na casa do Passal, mas que anos de 1992 e 1993 até se exibem ao ar livre, na rua da Escola, em local apropriado. Além disso, embora mais esporadicamente, mas com assinalável frequência no termo do decénio 1970, ainda avulta a encenação de quadros teatrais, em sessões publicas organizadas nos salões das sociedades filarmónicas.
Afora todas estas festividades de maior impacto comunitário, as relações sociais de outrora, que muito privilegiam as relações familiares e de vizinhança, geram também modalidades de convívio e de entretenimento dignas do devido realce. A titulo de exemple, relembremos a animação das matanças, que momentos de fartura, naturalmente propícios ao ajuntamento das gentes e á exteriorização da alegria durante as longas noites de Inverno. Além disso, apanha dos milhos implica um trabalho de desfolha, muitas vezes realizado em cooperação, que igualmente faculta ocasiões de diversão. Na actualidade, o desprendimento soa homens em ralação á terra e a progressão exponencial do individualismo quebram a convivialidade mais tradicional e, por consequência, as manifestações lúdicas e festivas e ela associadas.