Outras instituições

O futebol

Nas Lajes, à entrada da segunda metade do século XX, surge o desenvolvimento desportivo, cuja prática faculta benefícios físicos e psicológicos aos praticantes e proporciona entretenimento aos assistentes. Neste particular, ressalta a constituição de dois clubes de futebol, a Juventude e o Unidos, fenómeno relativamente singular no meio rural terceirense, que logo demanda uma séria análise, até consideração à brevidade desta primeira experiência desportiva. O futebol nasce em Inglaterra por meados do século XIX, guiando-se então por um regulamento publicado em 1863, após o fracasso de uma primeira tentativa de regulação datada de 1848.
Em Portugal, aparece inicialmente na Madeira em 1873, por influência da numerosa comunidade britânica há muito residente no Funchal, dedicada ao comércio do vinho e ao incremento ao turismo. No continente português, a prática futebolista sucede desde a década de 1880, por acção dos irmãos Pinto Basto, durante alguns anos estudantes na Grã-Bretanha,que introduzem a primeira bola em 1886. Todavia, a generalização das modalidades desportivas com bola ocorre durante a 1ª República, embora só na década de 1930, por via de uma grande popularidade, que ainda hoje inequivocamente ostenta.
Nos Açores, o futebol é igualmente uma espécie de invenção britânica, que emerge no Faial, por ação dos inúmeros ingleses, que permanecem na Horta ao serviço de empresas dos ramos dos transportes e das comunicações. Por isso, O Fayal Sport Club, fundado em 2 de fevereiro de 1909, é a mais antiga equipa açoriana e inclusivamente uma das primeiras do país, logo depois do Boavista, do Benfica, do Sporting e do Porto. Na Terceira, a competição oficial principia na década de 1920 e, na aproximação do meio da centúria de novecentos, a ilha converte-se na principal potência futebolística do arquipélago, ultrapassando inclusivamente o Faial, por força da implantação da base das Lajes, que traz a experiência dos ingleses e sobretudo dos militares continentais, que completam o plantel de muitas das equipas terceirenses.
Nas Lajes, o desenvolvimento do futebol resulta naturalmente da construção do aeroporto, que suscita o aumento da população e promove o convívio dos continentais. Aliás, logo em 1947, no espaço atualmente ocupado pelas escolas da Aldeia Nova, funciona um campo de jogos improvisado, onde adquirem uma primeira formação diversos atletas lajenses que, por falta de aproveitamento na freguesia, ingressam nos recém-criados clubes da Praia da Vitória, concretamente o Sport Club Praiense e a União Desportiva Praiense.
Porém, em 18 de maio de 1958, um grupo de entusiastas funda a Juventude Desportiva Lajense, com sede no primeiro andar de uma casa de Joaquim Martins Borges, sita ao Cruzeiro, e com recintos de prática futebolística, primeiro no Canto dos Faleiros, em terreno cedido por Adelino José de Andrade, e depois na Canada da Quinta, em campo de renda, cujos encargos regulares agravam substancialmente as dificuldades financeiras da agremiação, contribuindo para a sua inevitável insolvência.
Pouco depois, aparece ainda um novo clube, o Unidos, sediado numa loja situada ao Café Vitória, e com um retângulo para competição localizado na Rua Direita. Neste caso, trata-se de um grupo muito dependente da prestação de militares em serviço na Base Aérea 4, portanto de existência extremamente efémera, até talvez por menor enraizamento na comunidade lajense. Os palmarés das primeiras coletividades desportivas lajenses pecam naturalmente por escassos. Na memória das gentes permanece o bom futebol a espaços praticado pelos Unidos e, no caso da Juventude, que acompanhamos mais de perto, sobreleva a vitória num torneio de 1959, disputado na Graciosa, com a participação do Marítimo do Corpo Santo, e a conquista de uma taça de disciplina, após a filiação na Associação de Futebol de Angra do Heroísmo em 1960. Assim, ao invés da acumulação de êxitos, advém a inevitabilidade dos insucessos, concretamente a prematura extinção do Unidos, ao cabo de pouco tempo de competição e, do mesmo modo, a dissolução da Juventude na época de 1966-67, apesar dos esforços ainda desenvolvidos nessa temporada, no sentido da melhoria das condições de utilização do pelado da Canada da Quinta.
Entre as causas da rápida cessação da atividade futebolística nas Lajes avultam principalmente os seguintes fatores, os elevados encargos financeiros da manutenção de dois clubes, um manifesto exagero de todo incomportável num tempo de inexistência de apoios públicos ou empresariais; a falta de fervor clubístico, sempre imprescindível a persistência da paixão em eras de maior adversidade; os efeitos da funesta guerra colonial, que diminuem as possibilidades de recrutamento de atletas, e sobretudo a falta de sedes sociais próprias e, ainda mais, de um campo de jogos público, para libertar as agremiações das despesas regulares de aluguer e de conservação de instalações e retângulos de jogo.
A interrupção da atividade futebolística gera naturalmente grande desolação, sobretudo entre a juventude, que intenta sempre o reinício da prática desportiva. Nessas circunstâncias, os organismos da Igreja constituem os primeiros e os principais centros de acolhimento dos mais novos, onde se pondera a busca de outras soluções. Com efeito, logo em 1968, a Ação Católica possui uma secção recreativa, que certamente comporta uma aproximação ao exercício do desporto. Depois em 1969 e 1970, no sótão do Passal e no rés-do-chão da Sacristia velha, funcionam respetivamente o Juvenil Católico Lajense, que disputam com alguma regularidade jogos de índole particular. No entanto, em 1971, a instituição da Casa do Povo traz um renovado alento à organização do futebol nas Lajes, resultando na constituição de uma equipa que, antes do 25 de abril de 1974, disputa alguns dos campeonatos promovidos pela ex- F.N.A.T, oferecendo então uma interessante réplica às formações melhor apetrechadas do Porto Judeu, concretamente os Barreiros e os Leões que pouco depois se filiam na Associação de Futebol de Angra do Heroísmo. Pouco depois, sobreleva ainda a acção de Raimundo Machado Ormonde, que a título estritamente particular dedica tempo e devoção ao incremento do futebol juvenil, com resultados a prazo benefícios. Contudo, é a partir da época de 1977-78, que o futebol lajense ressurge em continuidade, agora no âmbito das provas do I.N.A.T.E.L.

Na altura, o espectro dos fracassos do passado preside à criação da nova agremiação, que porfia na consecução da unidade futebolística dos Lajenses. Por isso, o novo grupo assume sugestivamente a designação de Juventude Unida Lajense, intentando pela fusão dos nomes das antigas equipas dos anos cinquenta e sessenta obstar à reprodução das divisões. Todavia, apesar da precaução, irrompem de novo as rivalidades, então protagonizadas entre Os Vermelhos (Juventude Unida Lajense) e Os Azuis (União Desportiva Lajense), a que transitoriamente ainda se junta o intitulado Arrasa- Montanhas. Neste ressurgimento do convívio futebolístico, a par do entusiasmo dos mais jovens, influi ainda mais a experiência de alguns veteranos das décadas de 1950 a 1960, que agora funcionam simultaneamente como diretores, técnicos e praticantes. Em reconhecimento pelo esforço de todos eles, é justo realçar a dedicação, quantas vezes incompreendida, de Pércioda Silva Costa, antigo atleta da Juventude e dos Unidos e dirigente, treinador e executante de algumas das agremiações que disputam as provas da ex- F.N.A.T e do I.N.A.T.E.L., antes do feliz reaparecimento da Juventude Desportiva Lajense.
Ao cabo de uma experiência relativamente frustrante na disputa dos campeonatos do I.N.A.T.E.L., donde não resulta a conquista de êxitos significativos, sobrevém por fim o entendimento e a união dos lajenses, que a prazo redunda na obtenção de maiores venturas. De facto, em 1986, em discussão pública, acorda-se na extinção dos clubes em atividade e promove-se o ressurgimento da velha Juventude Desportiva Lajense de 1958, precisamente a equipa que suscitara primeiro o maior apoio e depois a maior saudade populares. Entre os timoneiros da reconciliação futebolística lajense, é de elementar justiça a recordação dos principais responsáveis da primeira direção da unidade, eleita para a época de 1986-87, considerando até o simples facto de infelizmente, apesar da proximidade temporal, nem todos pertencerem já hoje à comunidade dos vivos. Com efeito, as páginas do Semeador registam os nomes: Elmano Lopes, Presidente da Assembleia Geral, o infortunado Delmar Dias, Presidente da Direcção, Jorge Pires, Presidente do Conselho Fiscal e Amândio Silva e Jorge Ribeiro, treinadores. Um conjunto de razões preside ao reaparecimento da Juventude Desportiva Lajense na temporada de 1986-87, após cerca de vinte anos de interrupção de atividades.
Entre os principais fatores, enumeramos a reflexão dos adeptos, cada vez mais desapontados com as fracas prestações dos clubes inscritos nas provas do I.N.A.T.E.L., o apelo do movimento associativo, que pela dimensão relembra a importância da integração da freguesia nos campeonatos regionais, e sobretudo a construção do campo de jogos público, cuja falta constitui por décadas o principal entrave da promoção do desporto. De facto, nas Lajes, após a utilização de quatro diferentes recintos particulares de prática desportiva, localizados na Aldeia Nova, no Canto dos Faleiros, na Rua Direita e na Canada da Quinta, no termo dos anos sessenta, com o encerramento da Juventude Desportiva Lajense, os jovens vêem-se privados de utilização de um semelhante equipamento até 1986. As equipas lajenses que então disputam os campeonatos da Ex- F.N.A.T. e do I.N.A.T.E.L. utilizam terrenos exteriores, por exemplo, os campos de futebol do Posto 1, construído no Juncal, à entrada da Base Aérea 4, das Fontinhas e de S.Brás.

De facto, só depois do 25 de Abril de 1974, o poder local coloca maior ênfase no propósito de construção de um espaço público, para garantir a continuidade do exercício desportivo, independentemente da conduta e da sucessão das colectividades. No entanto, antes da opção pelo aterro de um brejo do Lajedo, procedeu-se à experimentação de outras soluções, nomeadamente a utilização de uma exígua faixa de solo camarário contígua ao pátio das escolas da Aldeia Nova, hoje ocupada pela ampliação das instalações escolares, a aquisição de um terreno junto à Casa do Povo, cujo processo nunca conhece particular desenvolvimento, e sobretudo, entre 1975 e 1977, a tentativa de obtenção da cedência pelas autoridades militares de uma parcela das vastíssimas sobras da Base Aérea 4, delimitadas por arame farpado. Aliás, na edição de 16 de Julho de 1977, o Semeador noticia a concessão pela Força Aérea da almejada área de implantação do parque desportivo, sita no desactivado Posto 2, à entrada da antiga Canada do Engenho. Porém, os entraves da burocracia e os imperativos da segurança frustram a pretensão dos lajenses, considerada uma espécie de ténue compensação pela edificação de uma colossal estrutura aeroportuária na planície das Lajes.
Nestas circunstâncias, a escolha do local de implante do futuro campo de jogos no Lajedo deriva de um processo contencioso de expropriaçãopública, por consequência demorado. Com efeito, em 19 de Janeiro de 1979, no decurso de uma visita oficial à freguesia, o presidente da Câmara Municipal da Praia da Vitória anuncia para breve o desbloqueamento dos embargos à aquisição do terreno. Porém, só de Junho de 1981, o boletim paroquial alude à existência do sítio e das verbas indispensáveis à concretização do projecto, reclamando um esforço comunitário para a consecução de maior celebridade. Contudo, muito estranhamente, apenas no Semeador de 23 de Junho de 1984 se noticia a tomada de posse do prédio pela Junta de Freguesia. Depois, os trabalhos prosseguem a bom ritmo, permitindo a materialização do sonho em 4 de Outubro de 1986, com a abertura do complexo desportivo lajense, ainda por cima em dia de começo das festas anuais em honra de Nossa Senhora do Rosário.
O programa de inauguração do novo parque desportivo das Lajes consta de um luzido cortejo, entre o Largo de S. João e o campo de futebol, abrilhantado pelas filarmónicas locais, onde se incorporam autoridades, convidados e populares. Com efeito, integram o desfile diversos membros dos governos regional, concelhio e local, dos ramos militares português e norte-americano, do braço eclesiástico e de instituições e clubes desportivos. Já no recinto, disputa-se um desafio de um tempo de alocuções, onde adquirem significado as palavras de circunstâncias pronunciadas pelo então presidente da Junta de Freguesia, Manuel Linhares de Lima, um velho entusiasta do desporto lajense. Na actualidade, a evolução da prática desportiva exige a introdução de melhoramentos no parque de jogos nas Lajes. Entre eles, ressalta muito naturalmente a necessidade de implantação de um piso sintético, que demanda por uma congregação de vontades, sempre imprescindível à persuasão dos poderes públicos.

Poucos anos volvidos sobre o reaparecimento da Juventude Desportiva Lajense, em 1986, surgem os primeiros êxitos, que certificam o acerto da resolução. Em referência aos seniores, após algum tempo de militância na 2ª divisão, na época de 1994-95, os lajenses ascendem à 1ª divisão, logo depois, em 1995-96, alcançam no campeonato terceirense e, por fim, em 1996-97, sagram-se campeões da Terceira e até de toda a área de jurisdição da Associação de Futebol de Angra do Heroísmo, na sequência de vitória alcançada em torneio de competência com as formações representantes de Jorgee da Graciosa, respectivamente o Desportivo Velense e o Sporting de Guadalupe. Este supremo feito motiva naturalmente o acesso da Juventude Desportiva à Série Açores da 3ª Divisão Nacional, onde estoicamente permanece por quatro temporadas. Aliás, esta série futebolística, que substitui para os clubes dos Açores a antiga Série E da 3ª Divisão Nacional, constitui um projecto desportivo com potencialidades, por força do incentivo do convívio insular. No entanto, trata-se também de uma iniciativa que reclama por ponderação.
Em novo entender, exige o alargamento do quadro de participantes, para que o risco da despromoção não persiga anualmente cerca de um terço dos competidores, que ficam inibidos da realização de investimentos mais vultuosos. Assim, a expansão dos intervenientes incrementa decerto a competitividade desportiva, tanto no seio da própria Série Açores, como no âmbito das competições regionais, através da diligência do movimento associativo, tendente ao recrutamento de novas colectividades, que hoje disputam provas desprovidas da menor qualidade. Após a conquista do direito de participação nos campeonatos nacionais, a construção de uma sede social própria constitui um marco novo e decisivo na história da Juventude Desportiva Lajense, que possibilita a consecução de mais triunfos. De facto, na sequência de apoio oficial, mas sobretudo por força do empenho de um conjunto de lajenses muito dedicado, reunido no denominado grupo de <<Amigos da Juventude>>, arrecadam-se os meios indispensáveis à edificação das modernas instalações da Rua Direita, que agora albergam o clube, depois de um tempo de domicilio, desde o reaparecimento em 1986, nas acomodações exíguas e fronteiras da ex-sede dos Azuis.
Assim, o lançamento da primeira pedra do novo edifício ocorre a 22 de Julho de 1997, por curiosidade no dia em que a equipa de futebol alcança o ingresso na Série Açores da 3ª Divisão Nacional. Depois, a inauguração acontece logo em 22 de Novembro de 1998, em sessão solene presidida pelos Senhores Presidentes da Assembleia Legislativa Regional e do Governo Regional dos Açores. A partir de então, o novo equipamento representa uma forma de enriquecimento do capital de iniciativa da própria freguesia, significando consequentemente um expediente de desenvolvimento socio-cultural. Todavia, a maior expectativa consiste na sua transformação em agente de engrandecimento da Juventude Desportiva Lajense, que facilite a consolidação do futuro e promova a honra do passado, no respeito pela vontade dos fundadores, pela crença dos dirigentes e pelo esforço dos técnicos e dos atletas de todas as eras. A Juventude Desportiva Lajense promove geralmente dois convívios anuais, que congregam sócios, atletas e colaboradores, no intuito de fortalecimento do espírito de união, indispensável à consecução dos principais objectivos da colectividade.

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