Os festejos do Rosário

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Nas Lajes, embora S. Miguel Arcanjo seja o padroeiro, as festas maiores realizam-se em honra da Nossa Senhora do Rosário, no decurso da primeira semana de Outubro. A tradição apresenta duas explicações para a elucidação do inusitado fenómeno. Uma vez, de natureza espiritual sobreleva reminiscências da difusão do culto pelo Rosário, no seguimento da vitória alcançada pelos cristãos contra os turcos em Leponto no longínquo ano de 1572. Outra, de caracter pratico, atribui o facto á quase coincidência das datas de evocação de ambos os oragos, nomeadamente S. Miguel Arcanjo, a 29 de Setembro, e Nossa Senhora do Rosário, a 7 de Outubro, pelo que o primeiro domingo de Outubro é o dia santificado mais próximo dos dois eventos. Apesar da incerteza das origens, os festejos do Rosário ganham maior projecção no princípio do século XX, muito por influencia do professor e do padre, por sinal os dinamizadores mais naturais das comunidades de outrora. Nessa época, as festividades incluem um relevante programa cultural, agora relativamente depreciado saraus musico-literais, onde evidencia a aptidão dos discípulos, e o pároco Henrique Sousa Ávila, que suscita a participação da capela do Seminário no programa religioso.

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Entre as manifestações sacras dos festejos, ressalta sempre o brilho da procissão, cujo cortejo percorre o centro da freguesia, precisamente entre a igreja paroquial e a ermida de Nossa Senhora dos Remédios. Na distinção do desfile, avulta habitualmente a cuidada decoração dos diversos andores, que se distribuem entre o guião e o pálio, em sequência entrecortada por filarmónica, alas de escuteiros, delegações institucionais e, por vezes, autoridades civis e eclesiásticas de maior relevo. Neste particular, assinala-se por exemplo, por exemplo, a participação em 1985 do bispo da diocese D. Aurélio Granada Escudeiro, em preito pela celebração do centenário do centenário da bênção da imagem de Nossa Senhora do Rosário, ocorrida em 4 de Outubro de 1855. Os ecos da imprensa constituem um significativo testemunho do lustro da procissão do Rosário. Em referência ao ano de 1966, o Diário Insular enaltece a dignidade da festa, destacando a religioso, nomeadamente a presidência do Dr. Francisco Carmo. Acolitado pelo padre Luís Cota Vieira, capelão do hospital da Praia, e pelo Dr. Valentim, pároco da Fonte de Bastardo, e o sermão proferido pelo Dr. Caetano Tomás.

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No programa profano das festividades, a tradição do fogo preso não rebaixa a primazia das da tourada á corda, que constituem por muito tempo a principal das realizações, em conformidade com os costumes da ilha Terceira. No passado, a maior forma converge na corrida da segunda-feira, que encerra um ciclo de quatro notáveis touradas, iniciado nos Biscoitos e com prossecução na Serreta e em S. Carlos, antes do fecho nas Lajes. Na actualidade, o maior brilho deriva do cortejo de carros alegóricos do bodo de leite da terça-feira, que motiva a maior ajuntamento popular e também inclui a realização de outra tourada durante a tarde. Por isso, a Camara da Praia da Vitoria, em sessão de 21 de Agosto de 1975, determina a comemoração do feriado municipal precisamente na terça-feira das Lajes, propósito que se cumpre durante vários anos.

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Nos Açores, por influência de um costumo continental, a lide dos toiros remonta praticamente á época do povoamento e sucede em quase todas a ilhas. Este exercício beneficia possivelmente do regime de liberdade dos bovinos lançados em terra para a garantia de subsistência das primeiras comunidades. Os gados adquirem então um caracter mais espantadiço, depois constantemente apurado por engenho dos homens, muito antes da importância de bravios de casta para a melhoria dos curros, que só sucede na aproximação do nosso tempo, quando a tradição se fixa quase exclusivamente na Terceira. Por isso, muitos testemunhos de outrora certificam a difusão das manifestações taurinas. A comprová-lo, na era de quinhentos, Gaspar Frutuoso alude á realização de vara larga em São Miguel, que procede do acolhimento de hábitos metropolitanos. Ademais, mais nos séculos XVII e XVIII, as constituições do bispado e as posturas de Angra, Ponta Delgada e Horta aludem, por diversas vezes, ao regulamento das corridas de gado. Porém, a prática persiste apenas na Terceira, movendo a curiosidade dos estudiosos, que incessantemente buscam explicações. Na falta de uma justificação conveniente, a maioria dos testemunhos releva a influência espanhola, considerando a forte presença dos castelhanos após a conquista de 1583, ainda por cima coincidente com uma era de expansão da tauromaquia na Península Ibérica, e a semelhança do “galfumbo” e de “el toro del aguardiente” dos arredores de Madrid com a diversão predilecta dos terceirenses. Porém, após a restauração, a persistência do gosto pelos toiros entre os povos de diversas ilhas, concretamente em S. Miguel e no Faial, fragiliza a tese da eplicação da “afición” terceirense por obra dos espanhóis. Nestas circunstâncias, buscam-se diferentes explicações, por exemplo, a reconhecida projecção sociopolítica da Terceira, paradeiro tradicional da mais alta aristocracia, amante por excelência da festa brava. No entanto, apesar de todas as interpretações, ainda permanece a dúvida sobre a origem das touradas à corda terceirenses, porque a generalidade das informações respeita à produção de espectáculos em praça, conformes com regras da arte tauromáquica e com o gosto da nobreza. Contudo, em 1622, por altura da canonização de Santo Inácio de Loiola e S. Francisco Xavier, os jesuítas já organizam em Angra um vasto programa de festividades, onde “… se correram [toiros] de corda pela cidade, vários em número, a que não faltaram mascarados e outras muitas gentes que se soube festejar”. Neste caso, atestamos claramente a antiguidade das touradas à corda, que anualmente anima as nossas estradas entre Maio e Outubro, terminando precisamente com corridas nos arraiais lajenses da festa do Rosário. Com efeito, desde épocas bem recuadas, a calçada das Lajes serve de palco anualmente a briosos espectáculos tauromáquicos, fornecidos por ganadeiros garbosos, capinhas e destemidos e toiros afamados.

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Na história das Lajes, a par da tradição das populares touradas à corda, também individualizamos o cultivo da arte de toureio em redondel, na sequência da inauguração da arena de Nossa Senhora dos Remédios, que ocorre a 15 de Agosto de 1886, em dia de comemoração da vitória liberal na batalha da Praia. Com efeito, em Dezembro de 1885, José do Canto Pinto de Menezes, lavrador abastado, residente à canada do Cruzeiro, o padre Agostinho Vieira da Areia e Júlio Augusto de Ávila constituem uma sociedade, tendente à exploração de uma praça de toiros, por um período de 18 anos, até Novembro de 1903. A denominação do empreendimento resulta da proximidade da ermida dos Remédios, pois localiza-se na antiga canada da Pedreira, em terrenos posteriormente ocupados pela edificação da fábrica do álcool e pela construção do aeroporto. Apesar do assinalável sucesso das duas corridas de Agosto de 1886, a praça possui uma curta existência, que não ultrapassa o ano de 1893. No entanto, ainda permanece por relevante marco do passado lúdico lajense. Ademais, representa meio de evidência da freguesia na ilha Terceira, mesmo no confronto com os ambientes urbanos de Angra do Heroísmo e Praia da Vitória. Na verdade, a construção do tauródromo das Lajes, sem par no universo rural terceirense, sucede pouco tempo depois da inauguração do redondel angrense de S. João e precedem consideravelmente a estreia da arena praiense do Bonfim. Até no contexto nacional, a iniciativa taurina lajense adquire particular destaque, pois só na segunda metade do século XIX ocorre o estabelecimento de praças fora de Lisboa, nomeadamente a partir de 1853, data de abertura do terreiro de Vila Nova da Barquinha.

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